A psiquiatria e seu modelo
de categorização dos ditos “transtornos mentais” vem recebendo uma quantidade
considerável de críticas ao longo das últimas décadas. O argumento central de
seus críticos é o de que a psiquiatria reduz a natureza plural e complexa da
subjetividade humana a determinações biológicas vagas e imprecisas. Tais
determinações são tomadas como verdades científicas, ocultado assim seu caráter
político e ideológico bem como seus equívocos epistemológicos e metodológicos.
Com o argumento de promover o tratamento para as “doenças” que inventa, a
psiquiatria, com o apoio da indústria farmacêutica, produz a medicalização da
sociedade criando assim um contexto de exclusão e estigmatização daqueles que
não se encaixam no modelo de normalidade estipulado.
Um caso ilustrativo que
demonstra o caráter ideológico, político e moral das concepções médicas sobre
comportamento humano é o de Samuel A.
Cartwright, médico norte-americano, membro da Louisiana Medical Association. Em
1851 Cartwright fez um diagnóstico para aquilo que considerava um tendência
humana patológica para a fuga. A “doença” foi cunhada com o nome de Drapetomania.
Na época de Cartwright, o diagnóstico era utilizado para explicar as constantes
tentativas de fuga por parte de negros africanos das propriedade em que eram
escravizados. Cartwright teve um artigo sobre a Drapetomania publicado no New Orleans Medical and Surgical Journal,
onde afirmava que o comportamento de fuga dos escravos era uma doença metal que
poderia ser prevenida e tratada com os procedimentos adequados. A técnica preventiva proposta pelo médico consistia em dar chicotadas em escravos que
pareciam insatisfeitos sem motivos aparentes. Para os casos mais graves, a
recomendação era que se efutuasse a amputação dos dedos dos pés.
Claro que muitos poderiam
argumentar que se tratava de uma época em que a psiquiatria estava apenas em
seu início, que esse tipo de situação era comum e que muita coisa mudou desde
então. Certamente a psiquiatria se desenvolveu e reformulou diversas vezes suas
concepções. Fato que não nego. Porém, a atitude de enquadrar a subjeitvidade
humana nos moldes da ciência empírica sem qualquer tipo de reflexão crítica
sobre os problemas teóricos e metodológicos que estão implicados nesse
empreendimento, ainda persiste nos dias atuais. A título de exemplo temos a
homossexualidade, que foi retirada da lista de “transtornos mentais” na decada
de 70, no entanto, desde então, a quantidade de “transtornos mentais” ligados a
sexualidade cresceu exponencialmente.
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