quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A Invenção dos Transtornos Mentais: O caso Cartwright




A psiquiatria e seu modelo de categorização dos ditos “transtornos mentais” vem recebendo uma quantidade considerável de críticas ao longo das últimas décadas. O argumento central de seus críticos é o de que a psiquiatria reduz a natureza plural e complexa da subjetividade humana a determinações biológicas vagas e imprecisas. Tais determinações são tomadas como verdades científicas, ocultado assim seu caráter político e ideológico bem como seus equívocos epistemológicos e metodológicos. Com o argumento de promover o tratamento para as “doenças” que inventa, a psiquiatria, com o apoio da indústria farmacêutica, produz a medicalização da sociedade criando assim um contexto de exclusão e estigmatização daqueles que não se encaixam no modelo de normalidade estipulado.

Um caso ilustrativo que demonstra o caráter ideológico, político e moral das concepções médicas sobre comportamento humano é o de Samuel A. Cartwright, médico norte-americano, membro da Louisiana Medical Association. Em 1851 Cartwright fez um diagnóstico para aquilo que considerava um tendência humana patológica para a fuga. A “doença” foi cunhada com o nome de Drapetomania. Na época de Cartwright, o diagnóstico era utilizado para explicar as constantes tentativas de fuga por parte de negros africanos das propriedade em que eram escravizados. Cartwright teve um artigo sobre a Drapetomania publicado no New Orleans Medical and Surgical Journal, onde afirmava que o comportamento de fuga dos escravos era uma doença metal que poderia ser prevenida e tratada com os procedimentos adequados.  A técnica preventiva proposta pelo médico  consistia em dar chicotadas em escravos que pareciam insatisfeitos sem motivos aparentes. Para os casos mais graves, a recomendação era que se efutuasse a amputação dos dedos dos pés.

Claro que muitos poderiam argumentar que se tratava de uma época em que a psiquiatria estava apenas em seu início, que esse tipo de situação era comum e que muita coisa mudou desde então. Certamente a psiquiatria se desenvolveu e reformulou diversas vezes suas concepções. Fato que não nego. Porém, a atitude de enquadrar a subjeitvidade humana nos moldes da ciência empírica sem qualquer tipo de reflexão crítica sobre os problemas teóricos e metodológicos que estão implicados nesse empreendimento, ainda persiste nos dias atuais. A título de exemplo temos a homossexualidade, que foi retirada da lista de “transtornos mentais” na decada de 70, no entanto, desde então, a quantidade de “transtornos mentais” ligados a sexualidade cresceu exponencialmente. 


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